Entrevista com Marco Antônio Freitas
Nascido em Teresina no Piauí-filho de um militar nascido no nordeste e uma pedagoga gaúcha-, Marcos viveu a maior parte da vida em Porto Alegre onde estudou Publicidade na Universidade Federal. Pediu transferência para Cinema na Columbia College-Hollywood e depois fez especialização em Roteiro na University of Califiornia-Los Angeles. Também fez workshops de Direção e Atores e Roteiro na Escuela de Cinema Y Televisión de San Antonio de Los Baños em La Habana, Cuba (fez oficinas/palestras com Nelson Xavier, George Lucas e Francis Coppola). Trabalhou em várias funções em Comerciais de Publicidade e Audiovisuais para empresas.
Entrevistou para livros, portais de entretenimento, revistas, programas de rádio e/ou jornais do Brasil, Itália, Bélgica, Portugal, España, Inglaterra e Estados Unidos, pessoas ligadas ao Cinema como Brian Trenchard-Smith, Albert Pyun, Claúdio Kahns, Leopoldo Serran, Roberto Gervitz, Michael Schroeder, Antonio Carlos Fontoura, Beto Strada, Mark Goddard, Michael Seresin, Dedé Santana.
Cinéfilo inveterado e pesquisador de Cinema colaborou com alguns livros: CASABLANCA-A CRIAÇÃO DE UMA OBRA-PRIMA INVOLUNTÁRIA DO CINEMA de Renzo Mora (escreveu o prefácio); CEMITÉRIO PERDIDO DOS FILMES B (organizado por Cesar Alcázar); PERDIDOS NO ESPAÇO (de Carlos Gomes & Saulo Adami); HOMEM NÃO ENTENDE NADA! - ARQUIVOS SECRETOS DO PLANETA DOS MACACOS (do mesmo Saulo citado anteriormente); VANESSA ALVES - COLETÂNEA DE IMAGENS & PALAVRAS (organizado por Rafael Spaca).
Apresenta, todas as terças, entre as 18:00 e as 19:00, há quase três anos, o programa de rádio O MARCO DE HOJE – www.showtimeradio.com.br - que desencava canções obscuras interpretadas por gente que teve participação marcante em trilhas e entrevista talentos da Cultura Pop.
E hoje é nossa vítima das 7 perguntas capitais.
Confira:
1) Quando nasceu sua paixão pelo cinema? Houve aquele momento em que olhou para trás e pensou: “-Sou cinéfilo!!”?
M.F.: Eu quando tinha uns quatro anos, já lia e amava desenhar. Hoje em dia não tenho mais paciência para isso. Me refiro a tentar criar histórias em quadrinhos, e lembro que dei muito trabalho aos adultos principalmente meu redor: parentes e professores (o primeiro time, aplaudia os meus esforços; o segundo grupo me expulsava da sala de aula e chamava o primeiro grupo para reclamar...ambos acabavam servindo de mais inspiração ainda as para as minhas caricaturas (quando se está de castigo por desenhar o professor e ressaltar o enorme nariz e as orelhas de abano dele, nada melhor, enquanto a mãe enfurecida não chega para buscá-lo na sala da diretoria é passar o tempo desenhando mais gente)!
Tudo isso era influenciado por desenhos animados (adorava os de Tom&Jerry feitos nos anos 40 e começo dos anos 50 exibidos com frequência nas TVs dos anos 70 e parte dos 80s...aqueles com um Tom gorducho e descabelado, um Jerry gordinho e afeminado, as pernas da empregada da casa aparecendo, e o trio lidando tudo com muita violência e sadismo surreal). Era viciado também no melhor seriado de TV que eu já vi, o icônico Batman, estrelado por Adam West & Burt Ward. A Sessão da Tarde com seus longas de Elvis, Terence Hill & Bud Spencer, as reprises de Ardida Como Pimenta com Doris Day e Os Marujos do Amor, com Gene Kelly dançando com...o rato Jerry (sim, houve uma época em que a criançada tinha acesso á clássicos feitos trinta anos antes na tv aberta!!)...lembro também de, tarde da noite, ver o futuro Darth Vader, o fisiculturista britânico Dave Prowse, no assustador O horror de Frankenstein e isso ter tirado o meu sono.
Recordo-me de ficar grudado na telona, impressionado com o King Kong de Dino de Laurentis, o Búfalo branco que atacava Bronson, Travolta matando a pau tanto nas pistas (e mais tarde na brilhantina); eu tendo que sentar na escada interna do Cinema devido à superlotação do local para ver o melhor Superman de todos (Christopher Reeve) voar com Los Lane enquanto a bela ´Can You Read My Mind?´ era cantada por Maureen McGovern, foi demais. Peter Sellers interpretando o Inspetor Clouseau em A nova transa da Pantera cor de Rosa (minha intro á saga cinematográfica dirigida por Blake Edwards) me marcou muito. E as fotos(!!!) de Udo Kier com os olhos esbugalhados vomitando sangue no hall do finado Cinema Ritz divulgando Drácula de Andy Warhol fizeram eu pedir para dormir com a minha irmã com medo de ataques de vampiros.
2) Coleciona filmes, CDs ou algo relacionado à 7ª arte? Quem curte cinema, costuma ter suas relíquias em casa...
M.F.: Francamente? Não. Guardo a maioria na cabeça e tenho muita coisa anotada em alfarrábios (gostou da expressão antiquada? Pesquisei no dicionário para parecer chique).
M.V.: Tive que procurar no dicionário para saber o significado (risos).
3) Depois de tantos anos consumindo cinema, o que ele representa para você? Consegue se ver sem a sétima arte?"
M.F.: Representa Tudo, amigo. TUDO! Cinema é meu parente, meu amigo e dependendo do filme, minha amante...não tenho como começar a contar o número de vezes que um bom filme revisitado me deu alento...eu temia que um grande filme visto com uma namorada tivesse a experiência PRESA àquele relacionamento, Marcus, e com o final da relação, o filme, de certa forma, ´perdesse´ o seu valor (ou até, não ´pudesse ser revisto´ por estar intimamente linkado com a ex-namorada). Descobri que o filme sendo bom, ele transcende isso tudo.
M.V.: Verdade. Faz todo sentido.
M.F.: Olha, sem acesso a filmes, eu provavelmente estaria com as mãos atadas para trás, pensando em algum filme sobre fuga de detentos para bolar um jeito de como escapar do manicômio...(risos). Ah, tem filme por aí que, muitas vezes, substituiu remedinhos para a minha ansiedade.
4) Qual sua experiência dentro do universo cinematográfico que mais te marcou?
M.F.: Uma interessante de citar foi a de três dias estagiando em O Demolidor, vendo Stallone, com instruções claras de não encarar o astro antes de entrar no set e o mega produtor Joel Silver (Máquina Mortífera, Matrix) decidindo quais takes com o Sylvester no monitor deveriam repetir sem consultar o novato diretor (meu xará Marco Brambilla)...
5) Existe uma lista dos "filmes da sua vida"? Ou pelo menos, uns 10 que tenham marcado você...
M.F.: Vou tentar facilitar a tua vida e a minha! Meu primo no Piauí, há uns cinco anos, pediu ´umas indicações´, e como eu estava insone acabei passando uns 130 títulos.
M.V.: 130??!! Manda ver...
M.F.: Ok, SEM ORDEM DE PREFERÊNCIA ALGUMA, please:
007 O ESPIÃO QUE ME AMAVA (minha intro ao universo Bond...vi num Drive-in no litoral gaúcho!!)
BYE BYE BRASIL (provavelmente o m eu filme nacional favorito...e notem as semelhanças com o filmes do Eastwood, BRONCO BILLY, feito pelo americano depois do nosso)
POLICE e AOS NOSSOS AMORES (os dois de Maurice Pialat e com Sandrinne Bonnaire)
OS EMBALOS DE SÁBADO À NOITE (obra-prima)
PAR OU ÍMPAR (a dupla italiana no mundo dos jogos de azar)
DIAS DE IRA (Giuliano Gemma e Lee van Cleef)
MENINO DO RIO (de Antonio Calmon)
BETE BALANÇO (um dos melhores finais que eu já vi em filme)
TRÊS HOMENS EM CONFLITO (Leone)
POPEYE (não sou fã do diretor Bob Altman, mas essa transposição-provavelmente o filme menos pessoal dele e provavelmente o meu favorito da filmografia dele)
BEN-HUR (Charlton Heston matando a pau)
OS PÁSSAROS (meu predileto do Hitch)
DIABOLIK (Mario Bava fez um filme ambicioso e cheio de gadgets e efeitos com o orçamento de fixador de cabelo nos 007)
LES DIABOLIQUES (apesar da semelhança no titulo, nada tem a ver um com o outro...o primeiro é a adaptação dos quadrinhos adultos com o anti-herói mais amoral e priápico da Europa; o segundo é um aterrorizante suspense francês estrelado pela carioca Vera Amado)
CAÇADA IMPLACÁVEL (Peter Fonda e o astro de DIABOLIK, John-Phillip Law, junto do argentino Alberto de Mendoza, que fez o pai de Antonio Fagundes no adorável BOSSA NOVA numa aventura cheia de tensão).
ZAPPED!- UMA MISTURA MUITO ESPECIAL (comédia juvenil sobre nerd que adquire super-poderes obtidos com experimento com maconha)
O ÚLTIMO AMERICANO VIRGEM (comédia dramática sobre adolescentes virginais cujos últimos dois minutos deixaram a gurizada na plateia traumatizada)
O BAGUNCEIRO ARRUMADINHO (Jerry Lewis no seu melhor momento)
O DÓLAR FURADO (Gemma de novo)
BREATHLESS-A FORÇA DE UM AMOR (com Valerie Kaprisky e Richard Gere num dos filmes americanos não-pornôs-com teor sexual mais francos dos anos 80)
CONRACK (Voight dando aulas)
TOOTSIE (Dustin que ajudou e muito no roteiro, deveria ter sido creditado nessa área).
A MORTE COMANDA O CANGAÇO (intenso viril e assustadoramente violento. Estrelado por um astro que nos últimos tempos antes da morte eu tive a honra de conhecer, Alberto Ruschel)
E muito, MUITO mais filmes...
6) Fale um pouco sobre os seus próximos projetos, ou algum que esteja trabalhando neste momento.
M.F.: Estou pesquisando incessantemente material para livros (ambos sobre a sétima arte...um, eu adianto, tem algo a ver com o humor judaico americano).
Ah! Como quero ficar milionário, estou pensando também em começar a jogar na loteria...
M.V.: Jogar é um começo...😄
7) Para finalizar, deixe uma lição da sua vida dedicada à arte.
M.F.: Bah, não tenho pretensão de dar lição de vida a ninguém, mas asseguro uma coisa a você que me dá a honra de ler o que escrevo neste momento: bons filmes podem ser os seus melhores amigos.
M.V.: E como amigo. Grande abraço
M.F.: Abraço e valeu pela oportunidade!