Entrevista com Marcelo Miranda

Marcelo Miranda é jornalista e crítico de cinema. Colaborador habitual de diversos veículos além de participar de vários festivais de cinema tanto como membro da curadoria quanto jurado. Marcelo foi o primeiro jornalista a me entrevistar, e hoje retribuo a gentileza.

Confira um pouco sobre suas preferências e projetos através das 7 perguntas capitais.


1) É comum lembrarmos com carinho do início da nossa relação com o cinema. Os filmes ruins que nos marcaram, os cinemas frequentados (que hoje, provavelmente, estão fechados), as extintas locadoras de VHS e DVD que faziam parte do nosso cotidiano. Você é um apaixonado por cinema? Quando nasceu sua paixão pelo cinema? 

M.M.: Não tenho um delimitador desse momento. Não existe, na minha cabeça, aquele momento mágico em que me descobri apaixonado por cinema. Simplesmente aconteceu. Tenho lembranças muito fortes de ver filmes na TV ainda criancinha, de ganhar um videocassete e de frequentar videolocadoras com meu pai de criação aos 7 ou 8 anos. Ele alugava faroestes (bangues-bangues) pra ele e desenhos animados ou Trapalhões pra mim. Fui crescendo e fui vendo filmes e até hoje é assim. Sempre fui muito mais aficionado com leitura (literatura, quadrinhos, História) e os filmes eram um complemento das atividades fora da escola. Até hoje, na verdade, leio tanto ou mais que vejo filmes, mas foi no cinema que me especializei profissionalmente (ainda que trabalhe com jornalismo de literatura até hoje). 

M.V.: Curioso como a grande maioria de apaixonados por cinema citam idades entre 6 a 7 anos. A Paixão começa cedo mesmo...

2) Coleciona filmes, CDs ou algo relacionado à 7ª arte? Quem curte cinema costuma ter suas relíquias em casa...

M.M.: Eu não me considero um colecionador. Tenho (e ainda compro) muita coisa em filmes, livros, quadrinhos e revistas, mas nunca sistematizei, nunca contabilizei ou organizei de uma maneira que pudesse chamar de coleção. Simplesmente adquiro aquilo que me interessa ter na minha casa à disposição (sem jamais pagar preços exorbitantes por absolutamente nada, sou totalmente contra qualquer tipo de especulação). Diria que possuo um acervo (bem vasto e variado) dessas coisas todas, centenas delas, em constante expansão. Colecionismo, mesmo, não é exatamente a minha prática.

3) Interessante como a vida dá voltas. Há 18 anos mais ou menos você foi o primeiro jornalista a me entrevistar. Li a entrevista hoje mesmo (coloquei um trecho abaixo), e percebi como as coisas mudaram. Naquela época eu ainda não era colecionador; eu tinha visto 11 mil filmes (hoje são quase 20 mil). Ninguém me conhecia como cinéfilo....E minha pergunta é: O que mudou no Marcelo Miranda cinéfilo neste tempo? Em que direção desenvolveu seu cinema?

M.M.: Lembro-me bem dessa entrevista. Eu era repórter de um portal de notícias em Juiz de Fora (MG) e cheguei a você pela dica de um conhecido em comum (ele, sim, um colecionador alucinado!). Foi interessante porque a seção desse portal era dedicada a perfis de pessoas interessantes, que tivessem boas histórias ou experiências, e numa cidade como Juiz de Fora o seu caso era bem incomum (uma pessoa dedicada a assistir muitos e muitos filmes diariamente e com viés de colecionador bem definido). Na época eu já escrevia sobre cinema há algum tempo - na verdade, desde a faculdade de Jornalismo, que cursei entre 2000 e 2003 (na época eu mantive, com um grupo de amigos, um site de textos sobre filmes chamado justamente Cinefilia).

Passei por alguns veículos de imprensa na cidade e, em 2006, me mudei pra Belo Horizonte, onde expandi bastante a atividade de crítica, pesquisa e cinefilia. Os anos de repórter e crítico no diário “O Tempo” foram fundamentais nesse sentido, pois me deram a possibilidade de circular em festivais, cabines, mostras e projetos nos quais até hoje mantenho ótimas relações e me proporcionam muitas possibilidades de trabalho. Daí veio o “boom” da internet e colaborei em revistas virtuais (Cinequanon, Interlúdio, entre outras) e hoje, com orgulho, escrevo na Cinética, pra mim a principal publicação de crítica de cinema no Brasil. 

Consegui, então, juntar o amor pelo cinema e pela cinefilia ao interesse em estudos, pesquisas, leituras e conversas sobre o assunto. De repente estava participando de curadoria de festivais, júris, editais, mesas de debate, pós-graduação, aulas - ou seja, uma caminhada efetiva não só na cinefilia (o ato de ver filmes com frequência), mas na formação, análise, pedagogia de olhares, participando mesmo de um certo estado de coisas do cinema. E que continue.

4) Qual sua experiência dentro do universo cinematográfico que mais te marcou? 

M.M.: Não sei exatamente a que experiência você se refere, se a um filme ou a um acontecimento, então vou citar os dois. 

M.V.: Na verdade, é uma pergunta aberta mesmo. Algum momento em sua caminhada cinéfila que tenha sido muito marcante.

M.M.: Assistir a “Psicose”, do Hitchcock, ainda na adolescência, foi profundamente marcante, por me revelar caminhos do cinema que eu desconhecia. Ainda hoje é o filme que mais vezes revi na vida, e foram dezenas de vezes (ainda que eu considere “Um corpo que cai” o melhor Hitchcock).

Outra experiência marcante, no sentido profissional, foi ter ido ao Festival de Cannes em duas ocasiões (2010 e 2012). Ainda que não tenha nada daquele glamour que a mídia reverbera (ao menos não pra quem vai cobrindo como jornalista), estar naqueles espaços, ver os filmes daquela forma e participar, mesmo que discretamente, de todo aquele carnaval, tem impacto. É uma grande diversão, acima de tudo.

5) Existe uma lista dos filmes que marcaram sua vida? Um Top 10 ou algo assim...

M.M.: Já fui muito mais adepto de listas do que sou hoje. Atualmente, fujo delas, especialmente quando me pedem. E vou fazer isso de novo aqui! Mas posso citar, muito de cabeça, alguns filmes que, quando vi pela primeira vez, mexeram comigo de forma a me fazer olhar para o cinema de outro jeito. Não são os meus “melhores filmes”,  nem uma lista ordenada, nem preferências nem nada disso. São apenas filmes que causaram algum tipo de impacto importante na época em que vi: “Psicose” (Hitchcock), “Três homens em conflito” (Sergio Leone), “Rio 40 Graus” (Nelson Pereira dos Santos), “2001” (Stanley Kubrick), “Prelúdio para matar” (Dario Argento), “India Song” (Marguerite Duras), “À meia-noite levarei sua alma” (José Mojica Marins).

6) Quais são seus próximos projetos relacionados ao cinema? 

M.M.: Meu projeto é continuar trabalhando com cinema sob todas as formas possíveis (exceto a realização, que é algo meio fora dos meus horizontes). Recentemente defendi meu mestrado estudando “Cavalo Dinheiro”, do Pedro Costa, e penso em fazer um doutorado em alguma coisa de cinema brasileiro. Quero seguir com crítica, curadoria, pesquisa, debates e aulas, que são coisas que adoro. E ainda ver muitos filmes e ler e ler.

7) Para finalizar, se pudesse deixar uma lição desta vida dedicada ao cinema, qual seria? 

M.M.: Espero que eu ainda tenha muita vida pela frente pra me arriscar a, um dia, dar alguma lição de vida!

M.V.: Que não deixa de ser uma bela lição. Obrigado amigo. Nos vemos por ai... 


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