Entrevista com Bianca Zasso

Bianca Zasso é uma jornalista e especialista em cinema, formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Durante cinco anos foi figura ativa do projeto Cineclube Unifra. Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Ama cinema desde que se entende por gente, mas foi a partir do final de 2008 que transformou essa paixão em tema de suas pesquisas. Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands. Como crítica de cinema seu trabalho se expande sobre boa parte da Sétima Arte. Colabora para os sites Claudemir Pereira, DVD Magazine, Cinemascope e Papo de Cinema e é apresentadora do programa Bia na Toca, realizado pela Toca Audiovisual. 

Hoje, Bia fala um pouco de suas preferências nas 7 perguntas capitais.

Boa sessão:

1) Quando nasceu sua paixão pelo cinema? Houve aquele momento em que olhou para trás e pensou: sou cinéfila!!? 

B.Z.: Na minha família sempre houve o interesse por cinema, especialmente por parte do meu avô materno, que foi o meu guia no início da vida cinéfila. Foi graças a ele que descobri o faroeste, tanto o americano como o italiano, que acabou se tornando um dos meus gêneros preferidos. É difícil definir quando começou o interesse, mas gosto de pensar que foi após a minha primeira sessão de cinema, na cidade de Recife, onde assisti ao O rei leão. Como fui criada em uma cidade do interior (Faxinal do Soturno –RS) onde não havia cinema e uma única locadora que não era lá essas coisas, tinha que me virar para assistir aos filmes de que tanto ouvia falar, afinal, naquele tempo não existia Google nem torrent! Foi uma adolescência bem sofrida para uma cinéfila (risos).

Quando entrei na faculdade de jornalismo passei a integrar o cineclube promovido pelo professor Bebeto Badke, que depois foi meu orientador no trabalho final do curso e também na pós-graduação. Foram 5 anos de cineclubismo onde aprendi muito sobre cinema e também sobre formação de público, algo muito importante em tempos onde a oferta é grande e a gurizada parece um pouco perdida na hora de escolher e mesmo de discutir os filmes. Paralelo com o cineclube, eu comecei a pesquisar sobre cinema, principalmente direção de arte e a relação de criação entre elenco e diretor. 

Isso foi em 2009, que acredito ter sido o ano do pontapé inicial da minha vida de pesquisadora. Mas o cinema sempre fez parte da minha vida, tanto que não consigo me lembrar de certas fases que vivi sem associar aos filmes que assisti. É engraçado, pois quando me lembro de alguma passagem da minha vida, sempre lembro qual era o filme que eu era “viciada” na época. E tenho pra mim que o cinema salvou a minha vida e talvez por isso eu tenha feito dele a razão do meu trabalho. Até tentei ser repórter e assessora de imprensa, foi um período bem divertido e de aprendizado. Mas a cachaça do cinema sempre falou mais alto. 

2) Coleciona filmes, cds ou algo relacionado à 7ª arte ? Quem curte cinema, costuma ter suas relíquias em casa...

B.Z.: Houve um tempo em que era vidrada em trilhas sonoras e cheguei a comprar bastante. O primeiro CD que eu comprei na vida foi a trilha sonora de O rei leão, que é a minha preferida até hoje. Porém, coleção de verdade eu tive de VHS da Disney, quando cheguei a ter quase 90 filmes. Hoje eu compro muito DVD e Blu-Ray, pois gosto da mídia física, de admirar a capa, segurar o filme. Pode soar fetichista, mas eu vejo minha coleção de filmes como um túnel do tempo, onde tem quase tudo em que eu acredito e as histórias, cores e sons que ajudaram a formar quem eu sou hoje. Nunca parei para contar quantos DVDs eu tenho, sou meio avessa à números. Mas acredito que são mais de 500.

3) O que te motiva a escrever sobre cinema. Vejo você cada vez mais envolvida em colunas, jornais, canais...

B.Z.: É a razão da minha vida. Nada me deixa mais feliz do que discutir cinema, passar horas, dias com uma cena ou um filme na cabeça. Hoje posso dizer que estou no caminho para ser uma crítica de cinema, pois acredito que ainda tenho muito que aprender e isso é ótimo! Adoro a troca com outros cinéfilos, descobrir filmes e diretores. E adoro mudar de opinião sobre filmes! Acho que isso mostra como a nossa bagagem cultural pesa na hora de opinar sobre um filme. Óbvio que tenho meus filmes do coração, mas acredito ser importantíssimo estar aberto para novos olhares. É aquela história: só o que está morto não muda. 

Nos últimos anos, tenho recebido bastantes convites para escrever e comentar cinema e vibro com cada um deles. Claro que levo meu trabalho a sério, mas é quase como convidar uma criança para um parque de diversões. Mesmo no período da pós-graduação, que exigiu várias leituras e um olhar mais focado e menos cinéfilo, eu encontrei alento. Trabalhei com a obra do diretor John Cassavetes e me vi mergulhada em várias questões não só sobre o filme, mas sobre eu mesma. Gosto quando os filmes colocam o dedo na nossa ferida, acho que é isso que nos faz sair de casa e ir ao cinema. Se eu sair de uma sessão do mesmo jeito que entrei, algo deu errado no processo. 

4) Qual sua experiência dentro deste universo cinematográfico que mais te marcou?

B.Z.: Olha, não sei se é uma loucura, mas eu encarava algumas maratonas no início da adolescência. Assistia a um filme atrás do outro, pegava ônibus só pra ir ao cinema na cidade vizinha, não me contentava quando não conseguia compreender algum filme, essas coisas. Era a legítima rata de locadora, assistia de tudo, o que acho que foi importante pra formação do meu olhar e para perder alguns preconceitos. 

Claro que foi apenas o começo, hoje eu entendo que não quero ver todos os filmes do mundo, mas quero entender e tirar o melhor dos que estiverem ao meu alcance. Óbvio que é maravilhoso assistir três, quatro filmes em um dia. Mas acho que a maturidade tem me mostrado que cinefilia tem a ver mais com envolvimento do que com quantidade. Certos filmes exigem dedicação e, talvez daqui a dez anos, você os assista novamente e descubra que não era nada daquilo que você pensava na primeira sessão. Quer magia maior que isso?

M.V.: Verdade. A quantidade, de certa forma, torna o universo dos descobrimentos bem maior. E a necessidade de revisão dos mais interessantes vem em decorrência.

5) Quem ama cinema sempre tem suas listas. Há uma sua com os "filme da sua vida"? Um Top 10 ou algo assim...

B.Z.: Já fui obcecada por listas. Tenho até algumas guardadas. Mas neste momento, onde a Bia tem quase 30 anos e alguns filmes nas costas, creio que os meus dez mais sejam estes:

Os sete samurais, de Akira Kurosawa, Noite de estreia, de John Cassavetes, Alice nas cidades, de Wim Wenders, Stalker, de Andrei Tarkovski, Amor sublime amor, de Robert Wise, O vingador silencioso, de Sergio Corbucci, O dia da coruja, de Damiano Damiani, Desejo de matar, Michael Winner, O homem do braço de ouro, de Otto Preminger, Acossado, de Jean-Luc Godard

6) Fale um pouco dos seus próximos projetos. Tanto os que estão acontecendo quanto os previstos para começar. 

B.Z.: Minha última aventura foi o Bia na Toca, um programete produzido pela Toca Audiovisual que lança um episódio novo a cada quarta-feira. Não é a primeira vez que encaro as câmeras, mas tem sido um desafio dar dicas num tempo curto sem ficar atenta demais na sinopse, já que essa não é a minha função. Meu objetivo é plantar a sementinha da curiosidade no espectador. Se ele se sentir atraído para dar uma conferida no filme que indiquei, ganho meu dia. 

Também escrevo semanalmente para os sites Claudemir Pereira (www.claudemirpereira.com.br) e DVD Magazine (www.dvdmagazine.com.br), além de ser patrona do portal Cinemascope (www.cinemascope.com.br) e colaborar no Papo de Cinema (www.papodecinema.com.br).  

Também integro o coletivo Elviras, formado por mulheres críticas de cinema, lugar onde tenho aprendido muito e iniciado uma luta por mais espaço e visibilidade para as mulheres que discutem, escrevem e pensam o cinema. Meus projetos para o futuro incluem dar mais ênfase para o meu lado acadêmico, me preparando para o mestrado. Acho que a gente não pode parar de estudar, não apenas cinema, já que a Sétima Arte ajuda a compreender várias outras camadas da nossa sociedade. No mais, quero crescer como crítica e, quem sabe, tornar-me professora e colaborar para o surgimento de novos cinéfilos. 

7) Para finalizar, se pudesse deixar uma lição do tempo que se dedica ao cinema, qual seria?

B.Z.: Não encare o cinema apenas como diversão. Ele é muito mais do que isso e você só tem a ganhar. Bjus da Bia.

M.V.: Valeu Bia. Sucesso para você. 


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