Entrevista com Albert Pyun
O bate papo da noite é com Albert Pyun, um diretor reverenciado por muitos admiradores de ficção científica "B", aventuras com pancadaria e ação com toques cyberpunk. Ele também é odiado por grande parte da crítica. Começou a fazer filmes antes de atingir a adolescência, filmando pequenos curtas de aventuras em Super 8, ainda nos anos 60. Anos depois, convidado por um dos mais populares atores japoneses de todos os tempos, Toshiro Mifune, para estagiar no Japão. O resto é história...
Com sua saúde debilitada, ele topou compartilhar um pouco da sua história. Infelizmente, como está enfrentando problemas justamente com a memória (demência), alguns fatos ele reconheceu que não lembrava mais.
Confira:
1) Como começou a trabalhar na Indústria cinematográfica?
A.P.: Eu comecei a trabalhar em empresas de comerciais em Honolulu quando eu ainda estava na faculdade. Mas fiz filmes caseiros com apenas 10 anos. Eu tinha certeza que seria capaz de dirigir um filme. E se eu conseguisse, e ele passasse no meu cinema favorito no Havaí, eu estaria realizado. Não pensei que iria além disto.
E como cinéfilo, eu tentava assistir a todo tipo de filme, principalmente produções asiáticas que eram populares no Havaí. E fui pegando gosto.. Meu estilo foi influenciado por obras de Jean-Luc Godard, Buñuel, Leone, ainda que os filmes em si, nada tem a ver com estes diretores. Eles faziam um cinema fora do convencional e isto me inspirava.
2) Qual a experiência em sua vida dedicada à arte que você nunca esqueceu?
A.P.: Ahh, há tantas experiências, mas provavelmente receber o financiamento para meu primeiro filme em Hollywood em 1981.
3) Na sua opinião, qual trabalho que realizou para o cinema considera o melhor?
A.P.: Eu acho que Jogo de Assassinos (1997) é o meu mais completo, mas Morte Anunciada (1998), Down Twisted (1987), Left for Dead (2007), Road to hell (2008) e o Interrogatório de Cheryl Cooper (2014) são os que mais me orgulho.
M.V.: Também gosto demais de Jogo de Assassinos (1997). Christopher Lambert era um dos meus atores preferidos na época. Mas confesso que Cyborg: O Dragão do Futuro é de longe, um dos filmes que mais revi na vida.
4) "Cyborg" se tornou um Cult Movie. E tinha o Van Damme que na época estava em alta. Você pode me dizer algumas curiosidades sobre essa produção? Como foi trabalhar com ele?
A.P.: Sobre Cyborg? Eu não consigo lembrar muito mais agora por conta da demência. Aliás, não lembro nada para ser sincero. Pode ser que amanhã eu lembre em detalhes. Sofre uma variância. Posso dizer apenas que trabalhar na Cannon foi louco. Eles tinham cronogramas rígidos, filmes saindo com entusiasmo. Foi uma grata experiência num estúdio com volume, mesmo que não possamos chamar de grande. E ai ele começou a quebrar e o entusiasmo acabou. Mas posso dizer que em Cyborg, sua mise-en-scène foi totalmente inspirado em Leone.
5) Agora sobre cinema em geral. Quais filmes marcaram sua vida? Existe alguma lista especial, tipo os 10 +?
A.P.: Por um punhado de dólares, Incompreendidos, 2001 - uma odisseia no espaço, Os três mosqueteiros, Um home de sorte, 007 contra o satânico Dr. No.
Mas Jesus Cristo Superstar eu revia sem parar. Gosto de Comboio do medo, A trama, A morte de um bookmaker chinês e Tempestade (Mazursky). Recentemente eu assisti a versão RoadShow (tipo um drive in itinerante) de A cruzada de 2005. Foi um filme soberbo. E da mesma forma Sucker Punch.
6) Fale um pouco sobre seus próximos projetos. Como está lidando com seu problema de saúde e dirigindo ao mesmo tempo?
A.P.: Eu tenho um grande: "Interstellar Civil War". Sairá em breve. Terminei os últimos ajustes recentemente. A minha demência realmente afetou o tom do filme e a edição. Esta doença tornou o pensamento linear impossível. Portanto, o filme possui uma qualidade artística muito mais simples. Meu cérebro funciona agora com altos e baixos. Então, isso foi traduzido para o filme de forma honesta. Também teve uma grande influência no script. Alguns rascunhos eram muito obscuros e pessimistas. Mas a minha parceira e esposa, Cynthia, rejeitou algumas partes, sugerindo uma realidade mais esperançosa. Cada dia foi uma luta. Às vezes eu tinha ataques quando editava. Eu recuperava a consciência horas depois e não tinha ideia do que estava fazendo.
M.V.: As imagens são lindas. Quais foram as influencias mais fortes na produção?
A.P.: Duna de David Lynch, Cruzada de Ridley Scott e talvez Leão de inverno de Anthony Harvey. Por incrível que pareça (isto pode irritar os fãs), mas vendo "Star Wars - despertar da força" e "Rogue one - uma história Star Wars" eu pensei que era exatamente este tipo de filme que eu não queria fazer.
7) Para finalizar, se pudesse deixar uma lição do tempo que se dedica à arte, qual seria?
A.P.: Uma grande lição: nunca desista.
M.V.: Muito obrigado pela sua atenção, meu amigo. A gente se vê nos filmes.
A.P.: Obrigado, Marcus