Entrevista com Rodrigo Cunha
Formado em cinema pela Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro, Rodrigo Cunha criou sua paixão pela sétima arte há muitos anos. Fundou o Cineplayers em 2003 e, desde lá, já criticou quase 300 obras clássicas do cinema.
E hoje é nossa vítima das 7 perguntas capitais. Vamos a elas.
1) Quando nasceu sua paixão pelo cinema? Houve aquele momento em que olhou para trás e pensou: sou cinéfilo!!??
R.C.: Sempre gostei de ver filmes, mas quando conheci Betinho, o primo de uma ex-namorada que via filmes e diretores bem mais conceituados, aquilo me chamou a atenção. Foi em 2001 quando conheci John Carpenter, Anthony Mann, Brian De Palma, Sam Peckinpah e por aí vai. Já comecei com os grandes graças a ele. Isso acabou afetando diretamente o que seria o Cineplayers, criado dois anos depois, ainda que minha preferência pela Hollywood clássica seja evidente para quem me acompanha há mais tempo. O primeiro filme mais cultuado que vi foi quando Betinho tinha acabado de ganhar um DVD da Gradiente, um daqueles cinzas grandões, com 'Vampiros “de John Carpenter. O impacto visual daquilo foi tremendo em mim.
2) Coleciona filmes, cds ou algo relacionado à 7ª arte? Quem curte cinema, costuma ter suas relíquias em casa...
R.C.: Sempre gostei de colecionar, mas passei por um hiato por falta de espaço. Cheguei a ter 800 filmes em DVD, mas me desfiz da maioria - literalmente, estava faltando espaço em casa. Dei alguns para amigos e leitores. Alguns eu me arrependo, pois se tornaram raros e o valor de mercado cresceu muito, como foi o caso do coreano 'Primavera, Verão, Outono, Inverno... E Primavera'. Engraçado que Blu-Ray não chegou a cair no meu gosto, mas acredito por ter mudado o meu foco na busca pelo colecionável: se antes eu comprava qualquer filme popular que gostava, com o advento dos filmes OnDemand, acabo hoje em dia comprando aqueles que são muito difíceis de serem encontrados assim. Atualmente, tenho comprado bastante coisa da Versátil, que tem feito um trabalho brilhante resgatando a filmografia de diretores importantes e difíceis de se achar em grande escala, como John Cassavetes, Jean Pierre-Melville, Mario Bava, Samuel Fuller, Andrei Tarkóvski e outros.
3) Como foi o processo de criação do cineplayers? De onde surgiu a ideia e o que, na sua opinião, o fez um dos melhores e mais lembrados sites de cinema do País?
R.C.: Com o meu crescente interesse, comecei a frequentar uma área de cinema de um fórum de games chamado Players, que existe até hoje, e que já era um espaço comum há muitos anos já - sou rato velho de internet. Ao lado de outros 3 amigos, Alexandre Koball, Tony Pugliese e Ary Monteiro, montamos uma primeira versão do Cineplayers para reunirmos textos que escrevíamos nos fóruns de lá. Em 10 de janeiro de 2003 nascia a primeira versão do site, toda atualizada manualmente via FrontPage. Era uma trabalheira danada. Depois de uns anos, montamos a primeira versão automatizada, sempre tentando ser fiel às ideias de um site que abrangesse o maior número de opiniões divergentes e honestas possíveis, algo que cultivamos até hoje. Quem visita o Cineplayers sabe que lá se encontra todo tipo de crítico e leitor, daqueles que gostam de cinema clássico até àqueles que buscam apenas uma diversão descompromissada - e esse acho que é justamente nosso grande diferencial.
Várias pessoas já me falaram que chegaram ao site apenas conhecendo o básico e, através dele, se aprofundaram bem mais em seus estudos. Veja bem, não estou falando apenas das nossas críticas, que formam um dos maiores bancos de dados do Brasil - se não do mundo -, mas também de textos dos leitores, que sempre se esforçam e fazem textos tão bons quanto os nossos. Há muito conteúdo a ser explorado no site e tenho muito orgulho disso.
4) Qual experiência, dentro universo cinematográfico que mais te marcou?
R.C.: Quando vi 'O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei' foi como ter um delírio. Sempre fui um jogador de RPG de mesa, e ver aquele filme em tela grande, ao lado de amigos que por tantos dados rolados e fichas preenchidas, tinha tudo a ver com experiências que tinha tido até então. Foi, sem dúvida, inesquecível. Já o filme que mais chorei no cinema - e fiz vergonha, confesso - foi 'Marley e Eu'. Sempre amei cachorros, mas nunca pude ter um porque a minha família não era tão favorável - exceto por uma vez, que tentamos ter e, nesses azares da vida, nossa cachorrinha morreu muito cedo. Foi um trauma muito grande e o filme resgatou tudo isso em mim. Mesma coisa com o japonês 'A Partida', que fala de uma maneira muito sensível e poética sobre a relação de pais e filhos, algo que valorizo por motivos pessoais.
Recentemente, 'Carol' me fez lembrar porque amo tanto o cinema, não pela sua complexidade - pois não é -, mas sim pelo modo como é possível dialogar com o sentimento através da técnica, das luzes, dos planos estilosos, da música... É um filme perfeito para mim. Experiências com Hitchcock, Godard, Coppola, Allen, Wilder, Ford, Huston, Leone e tantos outros também foram inesquecíveis. 'O Desprezo' foi um dos filmes mais lindos que já vi na vida. Meu título favorito de filmes pertence a um brasileiro: 'Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo'. São apenas curiosidades.
M.V.: Quando assisti "Senhor dos anéis: o retorno do rei" saí num êxtase tão grande, que soube naquele momento, o que foi assistir um grande épico da minha geração no cinema. Dentre os 13 melhores filmes que assisti na vida, foi o único que assisti no cinema. O outros são clássicos e não tive oportunidade ainda...
5) Cinéfilos tem suas preferências. Existe uma lista dos "filmes da sua vida"? Tipo um top 10...
R.C.: Sim, mas isso é muito pessoal. Esses 10 filmes, não necessariamente, indicam que foram os 10 melhores filmes já feitos. Por ordem alfabética: 12 Homens e uma Sentença (1957), 2001: Uma Odisséia no Espaço (1968), Antes do Amanhecer (1995), Apocalypse Now (1979), Aurora (1927), Casablanca (1942), Chinatown (1974), Circo, O (1928), Corrida Sem Fim (1971), Crepúsculo dos Deuses (1950), Curtindo a Vida Adoidado (1986), Desprezo, O (1963), Eles Vivem (1988), Era uma vez na América (1984), Era uma vez no Oeste (1968), Goonies, Os (1985), Harakiri (1962), Janela Indiscreta (1954), Manhattan (1979), Marca da Maldade, A (1958), Matar ou Morrer (1952), Meu Amigo Totoro (1988), No Silêncio da Noite (1950), Onde Começa o Inferno (1959), Poderoso Chefão, O (1971), Psicose (1960), Pulp Fiction: Tempo de Violência (1994), Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia (1974), Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei, O (2003), Sétimo Selo, O (1957), Sonhos (1990), Tempos Modernos (1936), Um Corpo que Cai (1958), Um Estranho no Ninho (1975).
São meus filmes favoritos, acho que tem mais de 30 aí.
M.V.: Tem mesmo (risos). É uma lista interessante e bastante eclética.
6) Fale um pouco dos seus projetos. Tanto os que estão acontecendo quanto os previstos para começar. Haverá alguma mudança estrutural no site?
R.C.: Atualmente estou fazendo curadoria para um evento que irá acontecer no Rio de Janeiro em 2017, que reunirá games, cinema, animes e muitas coisas nerds legais para o público. O Rio de Janeiro é muito carente nesse sentido e acreditamos que há muito o que se consumir nessa cidade, aquecida com os Jogos Olímpicos. Já para o site, estamos fazendo toda uma reestruturação nele, para abranger ainda mais o lado social e, claro, às novas tecnologias, como a responsividade para que ele funcione bem em todas as telas do mercado - celulares, tablets, tvs grandes e por aí vai. Além disso, vamos retomar o nosso podcast em breve e também pretendemos fazer vídeos, pois é o presente já. Mas nunca deixaremos de escrever nossos longos e detalhados textos pelos quais somos conhecidos.
7) Para finalizar, se pudesse deixar uma lição deste tempo que se dedica ao cinema, qual seria?
R.C.: Que as pessoas consigam amar umas as outras da mesma maneira que elas amam as coisas desimportantes dessa vida. O cinema tem muito disso.
M.V.: Obrigado pela sua atenção amigo. Sucesso.