Entrevista com Rita Carelli

Rita Carelli é atriz e diretora. Fez estágios com Ariane Mnouchkine, Maurice Durozier, Eve Doe Bruce e  Juliana Carneiro da Cunha do Theatre de Soleil. Trabalhou como atriz, diretora e dramaturga de várias peças teatrais. Já colaborou com diversas companhias teatrais entre elas a Cia Delas de Teatro (SP/SP), A Outra Companhia de Teatro (SSA/BA) e Les Mistons (França). Foi contemplada com o prêmio Atriz Revelação no Janeiro de Grandes Espetáculos, por sua atuação em "Poemas Esparadrápicos", com direção de Fernando Escrich.

No cinema foi protagonista, ao lado de Irandhir Santos, do longa-metragem “Permanência” de Leonardo Lacca, filme que lhe rendeu os prêmios de melhor atriz no “19º Cine PE” e no “9º Festival de Cinema de Triunfo”, tendo sido exibido em festivais como o de Munich, Havana, Santa Maria da Feira (Prêmio de Público), Montevidéu, Belfort, Punta del Leste, Festival de Cinema do Rio e Mostra Internacional de São Paulo.

E hoje, ela é nossa vítima das 7 perguntas capitais. Confira:


1) Nem sempre quem atua, é uma pessoa apaixonada por filmes. Você curte cinema, costuma ir com frequência ver as estreias, compra filmes...?

R.C.: Com certeza. Costumo dizer que quem ama filmes não imagina que a gente se diverte ainda mais fazendo-os (risos). Mas o cinema faz parte da minha vida em todos os seus aspectos. Até já namorei um projecionista e aprendi a projetar rolos de película! Mas mesmo trabalhando com isso e vivenciando os bastidores das filmagens continuo uma espectadora ideal: choro, rio e acredito em tudo se o filme for bom. Sofrendo em uma cena particularmente tensa de acidente eu já me peguei dizendo: "caramba, eu até posso imaginar como eles fizeram isso, pára de sofrer, nem é real". Mas não adianta, acho que sou atriz exatamente por conta de minha suscetibilidade.

2) Você é atriz e diretora por formação. Conte-nos como começou sua carreira. Como foi a primeira oportunidade de atuar?

R.C.: Estudei de teatro desde os 12 anos de idade, em uma escola de bairro (que era ótima, aliás) chamada Piccolo, na Vila Madalena, em São Paulo. Não existe mais, ficava onde hoje é o Galpão do Circo, mas profissionalmente comecei como palhaça. Integrei, desde os 19 anos, o elenco dos Doutores da Alegria, em Recife, que atende crianças hospitalizadas. eu era a atriz mais jovem na época, mas é um programa super profissional, com excelentes atores e muito treinamento. 

Eles me criaram. Logo comecei a ir pros palcos, fazer espetáculos de rua e trabalhar em curtas com os amigos de Recife. Depois fui fazer uma escola de teatro em Paris, a Escola Internacional de Teatro Jacques Lecoq, que dá uma excelente formação em teatro físico e improvisação. Voltei pro Brasil e não parei mais de atuar, mas também comecei a dirigir e escrever algumas coisas.

3) Dos filmes que participou (curtas e longas), qual foi o mais desafiador? 

R.C.: O filme Permanência, de Leonardo Lacca foi muito marcante pra mim. O primeiro longa a gente não esquece, né? Eu não tinha a menor ideia se o que eu estava fazendo prestava, sentia uma insegurança louca, mas não larguei o osso, era meticulosa, obsessiva, mas também muito intuitiva. E contei com um excelente parceiro de cena, o Irandhir Santos, que que além de ser um grande ator é um amigo querido. Fizemos isso de mãos dadas, foi incrível.

M.V.: E existe algum personagem marcante no cinema que gostaria de ter interpretado?

R.C.: Quanto a um papel no cinema que gostaria de interpretar: o de Isabelle Adjani em Possessão, de Andrzej Zulawski. Amaria ter feito este, mas ela está excelente, melhor deixar assim mesmo...

4) Qual sua experiência dentro deste universo artístico que mais te marcou?

R.C.: A experiência de trabalhar em hospitais. Ali tudo é urgente e a arte é vital. Afetamos e somos afetamos imediatamente e através da atuação podemos inverter papeis de hierarquia, provocar o riso, encontrar o inusitado. Tenho eternas saudades desse trabalho.

5) Nos fale um pouco das suas preferências cinematográficas. Quais filmes marcaram sua vida e porque?

R.C.: Ah, difícil essa coisa de fixar listas pra mim, sou aquariana! Amanhã te diria outros tantos, mas vamos lá: "Noites de Cabíria", pela atuação de Giulietta Masina, me inspirou muito como palhaça, "Festa de família", pela "simplicidade" do dispositivo cinematográfico, por como o filme se apoia nos atores (e em um bom roteiro), "O Boulevard do crime", pelo conjunto da obra, a aproximação do teatro com o cinema, os filmes de Tarkovsky, justamente pelo contrário do que eu valorizei nos outros: o aparato cinematográfico, a fotografia, em sua potência máxima... Essa é uma missão meio sem fim, né?

M.V.: Realmente, a lista dos filmes que gosto cresce ano a ano... E ainda bem. Se isto não acontecesse, significaria que o eu estou procurando filmes nos lugares errados (risos). 

6) Há algum projeto em vista que possa compartilhar conosco?

R.C.: Bem, estou trabalhando em meu primeiro longa como diretora... tchãn,tchãn, tchãn! Mas ainda é meio sigiloso, deixemos o universo fazer o seu trabalho. Depois eu volto pra contar.

7) Para finalizar, se pudesse deixar uma lição do tempo que se dedica à arte, qual seria?

R.C.: Persistência. O mundo há de melhorar! E se, de quebra, nossas condições de trabalho também melhorarem um pouquinho também não será mal, mas por enquanto, o principal é acabar com a fome, o preconceito, as injustiças sociais... E se a arte puder colaborar em algo nesse sentido, já valeu a pena.

M.V.: Obrigado pela atenção. A gente se vê nos filmes. 

 


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