Entrevista com Marcos de Castro e André de Castro
Conheci os gêmeos em 2015, quando realizaram o curta metragem de 13 minutos, do gênero terror chamado MORTOS VIVOS VIVOS MORTOS. O curta mostra mortos vivos velando, em caixões, suas parentes vivos a fim de sepulta-los ainda com vida, isso visto através de um cinegrafista amador que filma, mais precisamente, o cortejo fúnebre de um pai zumbi que vela a própria filha viva e carrega seu caixão pela cidade para enterrá-la viva. André e Marcos de Castro assinam o roteiro. O Marcos a produção e o André a direção.
De lá para cá, trocamos sempre experiências e informações. A amizade rendeu um trabalho juntos para o novo Dicionário de Cineastas do crítico Rubens Ewald Filho. Engraçados, cinéfilos, espirituosos, correm atrás dos seus sonhos como ninguém. Abaixo, eles respondem às 7 perguntas capitais.
Boa sessão:
1) É comum lembrarmos com carinho do início da nossa relação com o cinema. Os filmes ruins que nos marcaram, os cinemas frequentados (que hoje, provavelmente, estão fechados), as extintas locadoras de VHS e DVD que faziam parte do nosso cotidiano. Vocês são apaixonados por cinema? Conte-nos um pouco de como é a relação de vocês com a 7ª arte.
M.C.: Meu interesse pelo cinema surgiu em 1984, quando eu e meu irmão assistimos pela primeira vez a festa do Oscar e "Laços de ternura " ganhava o melhor filme do ano. Em seguida, veio o 1º vídeo cassete em 1988 (Toshiba x-40 4 cabeças) e a 1ª fita virgem (Leader – era a marca), e começou tudo.
Em 1985, assistimos a nosso primeiro filme completo na vida. Foi: "Terror em Amityville 2" , imagina o trauma, porém, com o gênero terror, foi amor a primeira vista. Em 1986, 1ª vez ao cinema: "Os Goonies" versão dublada, 1º filme legendado no cinema: 1989 - Uma secretária de futuro.
Inicio dos filmes não sendo norte americano: Trilogia Sissi, clássicos: os filmes de Tyrone Power (nosso ídolo). Tudo colaborou entre 1984 a 1990 e daí em diante, vieram inúmeras situações inusitadas e engraçadas para conseguir e ver certos filmes. Lógico, o terror é o nosso favorito, mas nada é só terror.
Cinéfilos? Sim, somos... pode ser ...E o ventou levou ao Braddock, ou A marca do Zorro, de 1940 aos Vingadores, ou Psicose ao O Vingador Tóxico, Picnic - férias de amor ao Persona... filme bom não tem gênero, ano ou país para nós dois.
Musa eterna: Jamie Lee Curtis desde 1990 até hoje.
Mestre dos filmes de terror: Jason Voorhees SEMPRE!.
A.C.: Além da Jamie Lee Curtis, a segunda em nossa lista é a Sigourney Weaver. Imagina a alegria quando ambas trabalharam juntas em 2010 no filme "Você de Novo", e a decepção com o filme quando subiram os créditos!
M.V.: De fato é um filme esquecível.
2) Colecionam filmes, cds ou algo relacionado à 7ª arte ? Quem curte cinema, costuma ter suas relíquias em casa...
M.C.: Nossa, DVD, blu-ray e muitossssssssssssssssssssssssss VHS. As locadoras fecham e compramos tudo! Temos 2 vídeos, 2 blu-ray... trilhas sonoras em cd e LP (temos duas sonatas). Livros dos filmes, bonecos, quadros... tudo o que possa imaginar.
A.C.: Mas não compramos qualquer coisa. Não vamos com uma cesta em lojas e enchemos com filmes. Só temos os filmes certos para a nossa coleção. Filmes que sabemos com toda certeza que precisamos ter!
M.V.: Só compram os filmes certos, ou seja, todos!!! Bem como eu...
M.C.: Não foi uma indicação. Realizamos a inscrição do curta no Short Film Corner e foi aceito na plataforma digital. A luta foi (e isso algumas pessoas não sabem), é que se você estiver presente, poderá agendar a exibição do curta em uma pequena sala de cinema, sendo que você determina os convidados. A luta mesmo foi ir atrás de patrocínio para custear a viagem. E o custo aqui é duplo. Conseguimos para um de nós e fomos a Cannes. Devido nosso currículo, conseguimos uma boa credencial (não apenas por isso, mas por outro fato secreto também), e assim conseguimos andar em 80% de todo festival logo na primeira viagem.
Foi sensacional para quem está começando. Tudo ali foi surreal: John C. Reilly, as festas, a sessão, os meetings, o resultado, os filmes, as sessões... sem explicação... 100% inenarrável. Depois disso, o curta já foi a Juiz de Fora, Campinas e no Caixa Belas Artes em São Paulo. Nada mal, para um curta que custou R$800,00 do nosso bolso feito em Ribeirão Preto, interior de São Paulo.
A.C.: Conseguimos vários contatos e estes contatos progrediram. Devido a isso outros projetos estão nascendo. Experimentamos um inicio um pouco conturbado, mas que no final, o desfecho foi super feliz. O que conseguimos após Cannes, nunca trocaríamos por nada desse mundo.
4) Qual sua experiência dentro universo cinematográfico que mais marcou a vida de vocês? Afinal, cinéfilo tem sempre suas maluquices...
M.C.: Houve centenas, mas separamos as mais marcantes e ilógicas, como: beijar o sofá na casa do Rubens Ewald Filho quando ele disse que Jodie Foster havia sentado nele também;
Em 1992 descobrimos pelo Video Show (não havia internet), que 22/11 era aniversario da Jamie Lee Curtis, demos um grito tão forte que o vizinho saiu com um pedaço de pau, quase entrando dentro de nossa casa, achando que estávamos sendo assaltados;
John C. Reilly nos abordar em Cannes querendo tirar uma foto com a gente! Muito bizarro, tinha de ser ao contrário!
Ver Jane Fonda no banco do passageiro passando por uma rua de Cannes;
A sessão do curta em Cannes e o elogio das pessoas após a exibição;
Assistir "O exterminador do futuro" de 1984, na praia, em uma sessão especial a noite, ao ar livre, fazendo piquenique na areia em Cannes;
Teve muitas, muitas... e agora não consigo me lembrar de todas!
Ah sim, ter conversado com a Nancy Allen por telefone!!! Estávamos elogiando a atriz a um rapaz, sem saber que este rapaz era assessor dela e em seguida, ele fez uma ligação...e quando disse "Hello" era ela: Carrie a estranha, Febre de Juventude, Vestida para matar, Robocop, Um tiro na noite, Poltergeist 3...ali.
A.C.: Temos muitas histórias envolvendo filmes pouco conhecidos, como nossa luta de 15 anos para conseguir assistir o terror B "Numa Noite Escura" com a Meg Tilly (essa história daria um filme), ou arrancar pedaços do outdoor do "Twister" quando ele foi lançado nas locadoras, implorar pôsteres na locadora de um determinado filme ou atriz (foi uma guerra pelo pôster do "Striptease" em 1996, mas nós dois vencemos). Existem várias, algumas até embaraçosas para contar.
5) Cinéfilos tem suas preferências. Existe uma lista dos "filmes de suas vidas"? Tipo um Top 10...
M.C.: Minha vida e do meu irmão: ...E o vento levou (1939), Do mundo nada se leva (1938), Sexta feira 13 (1980), Blade Runner - o caçador de androides (1982), Carrie - a estranha (1976), Interiores (1978), Volver (2006), O Exorcista (1973), O massacre da serra elétrica (1974), Um peixe chamado Wanda (1988).
Esses foram 10 de uma lista de 50 principais, dos mais de 12.000 que já vimos!
A.C.: Idem (by Whoopi Goldberg)! Foi difícil tirar O exterminador do futuro (1984) da lista.
6) Falem um pouco dos seus projetos. Tanto os que estão acontecendo quanto os previstos para começar.
M.C.: Temos dois curtas e dois longas em ótima fase de produção! Todos são de terror e seus subgêneros. É uma luta constante, nada no Brasil é uma ciência exata, mas temos fé e vontade de lutar com honestidade.
A.C.: Nós temos um ótimo relacionamento com o SESC e estamos conseguindo ótimos progressos na área de cinema graças a essa parceria.
7) Para finalizar, se pudessem deixar uma lição das suas experiências para os que estão iniciando, qual seria?
M.C.: Mesmo lidando há 6 anos com todas as formas de leis de incentivo, mas ainda nos sentindo estreantes, mas deixamos o seguinte aviso: Cuidado em quem vocês vão confiar, quando tudo parecer fácil, podem começar um plano B URGENTE! Fé, força e siga em frente. Não deixe ninguém domar o seu sonho e a sua raiva! Você irá precisar de todos!
A.C.: Para que o vento não leve seus sonhos, sempre esteja a um passo da eternidade. Seu vale continuara verde se você acreditar que a luz e o sol são para todos. Pois assim caminha a humanidade e sendo assim, todos devem viver felizes para sempre! Os melhores anos de nossas vidas é o tempo que estamos neste mundo!
M.V.: Obrigado amigos. Foi uma dupla honra.