Entrevista com Juliano Cazarré

Nossa vítima de hoje é o ator Juliano Cazarré, que foi recentemente premiado como melhor ator por Boi Neon no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, de 2017. O ator é um rosto conhecido do cinema, novelas, séries, teatro, e hoje responde às 7 perguntas capitais.

Boa sessão:


1) Como começou a trabalhar na indústria do cinema? Quando surgiu a primeira oportunidade de atuar?

J.C.: Fiz alguns curtas metragens em Brasília enquanto ainda estudava na UnB. E fui pegando gosto. Um desses curtas conheci José Eduardo Belmonte que estava ajudando a diretora do curta Cibelle Amaral. Belmonte depois me chamou para fazer uma leitura do roteiro de A Concepção e posteriormente me convidou para o filme. Quando A Concepção foi lançado em 2005, comecei a receber convites para testes e fui passando em alguns como Nome Próprio, Magnata, Tropa de Elite 1 e de lá para cá venho sempre colocando mais tijolinhos nessa estrada.

2) Nem sempre quem faz cinema, curte cinema. Você gosta de ver produções nas telonas, alugava filmes nas locadoras de VHS, DVD...?

J.C.: Eu curto cinema. Mas não sou um cinéfilo que sabe nomes de diretores estrangeiros, que lê biografias. Eu amo ver filmes e apesar de ser ator continuo com olhar de público, quero saber da história, do drama, do personagem. Claro que presto atenção em planos, direção de arte, mas meu olhar é de espectador. Eu gosto é da catarse.

3) Há uma lista de filmes de sua preferência, tipo 10 filmes da sua vida, ou algo assim…

J.C.: Vamos ver. Não tenho essa lista, mas vou citar aqui uns filmes que amo.

A Última Noite. Robert Altman (seu último filme), USA 2006

O Grande Lebowski. Irmãos Cohen. USA 1998 

Bad Boy Bubby. Rolf De Heer. Australia-1994, IMPERDÍVEL, procurem na internet.

Os Camelos Também Choram. (Documentário) Byambasurem Davaa, Luigi Falorni

Sangue Negro. P.T. Anderson USA 2007

Cidade de Deus. Fernando Meirelles. Brasil 2002

O Cachorro. Carlos Sorin Argentina 2004

Enter the Void (Viagem Alucinante - péssimo título em português!!!!). Gaspar Noé França 2009

Pulp Fiction - Quentin Tarantino USA 1994

Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças - Michel Gondry - USA - 2004

4) Recentemente, acompanhamos você na novela Regra do Jogo (2015), no papel do Mc Merlô. É perceptível sua entrega nos papéis, buscando personagens diferentes, fortes e que provocam discussões.  Às vezes faz um papel pequeno, mas mesmo assim é marcante. Você vai atrás destes papéis ou eles tendem a aparecer para você? 

Boi Neon por exemplo, que é considerado por muitos um dos melhores filmes nacionais dos últimos anos, você tem uma cena bem difícil com a atriz Samya De Lavor…

J.C.: Acho que é um pouco de tudo. Eu gosto de personagens diferentes e gosto de criar personagens diferentes. Eu vou atrás deles, mas eles vêm atrás de mim também. Não precisa ter haver com nudez ou cenas de sexo, etc. Aliás, cada vez fica mais difícil e penoso para mim fazer certas cenas. Entendo que um ator tem muitas qualidades que pode explorar. Alguns atores são mais verdadeiros, trabalham muito com a verdade. Outros atores tem um carisma excepcional, que encantam o público imediatamente. E há os atores de construção, que gostam de criar personagens diferentes, trabalhar o gesto, a voz, o olhar, etc. 

Claro que isso não é uma ciência, é só uma divisão que eu inventei na minha cabeça, mas obviamente um ator pode ser carismático e verdadeiro, como o Selton Melo por exemplo. Ou pode ser verdadeiro mesmo construindo fortemente o personagem, Wagner Moura faz isso muito bem. Eu, particularmente, sem abandonar carisma e verdade, gosto mesmo é de criar tipos, figuras, gente que o público veja e reconheça.

M.V.: E tem conseguido fazer isto com maestria.

5) Qual sua experiência dentro do universo artístico que mais te marcou? 

J.C.: A Festa da Menina Morta é um filme do qual tenho um orgulho enorme de ter feito. Matheus Nachtergaele foi o melhor diretor de ator que já tive, além de  entender tudo de direção, ritmo, figurino, trilha, direção de arte. Mas o mais incrível nesse trabalho foi mesmo o processo. Fiquei dois meses na Amazônia, andei o Rio Negro de cima abaixo, fui numa pajelança e me vi entre irmãos com os índios, pesquei, trabalhei como ajudante do Evilásio, um senhor que construía barcos na Cidade de Barcelos - AM. Trabalhar com um elenco de atores e não-atores, todos dirigidos por Matheus em ensaios numa sala nos fundos da igreja de Barcelos é algo que nunca esquecerei. Foi um tesouro o processo, o filme, a viagem de quase dois meses. Fora que o filme é um escândalo de Beleza e Dor.

6) Fale um pouco sobre seus próximos projetos…

J.C.: Agora no segundo semestre farei uma novela de Walcyr Carrasco na Globo. Vou fazer um garimpeiro de esmeraldas no Tocantins. Acho que vai ser divertido. E estou aguardando ansiosamente os lançamentos de O Grande Circo místico de Cacá Diegues, Aurora de José Eduardo Belmonte e de Pluft - O Fantasminha 3D de Simone Svartman.

7) Para finalizar, se puder deixar uma lição destes anos dedicado à arte, qual seria?

J.C.: Aprender a ouvir a intuição é fundamental. Perseverança e trabalho duro são imprescindíveis. Um ator também precisa ler literatura, ensaios, filosofia, revistas, poemas, ver filmes, ver teatro, escutar boa música, ir a museus... Não existe ator sem cultura. Ator sem cultura não é ator.

M.V.: Obrigado pela atenção amigo. Nós vemos nos filmes. 


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