Entrevista com Helio Nascimento
Nossa vítima de hoje é o blogueiro e cinéfilo Helio Nascimento.
Cinéfilo desde sempre, mesmo quando ainda nem conhecia direito tal palavra. Formado em Comunicação Social – especialidade Publicidade e Propaganda, mas jamais atuou na área, pois, quando fez o curso, já era servidor público federal efetivo e permanece assim até os dias de hoje. Tem grande prazer no seu trabalho, pois o proporciona a oportunidade de pesquisar bastante, escrever, investigar, analisar... Antes disso, foi bancário por aproximadamente dois anos. Sua intenção era cursar Cinema, mas não havia nenhum curso superior na área no Estado. Não à toa, seu trabalho de conclusão de curso falou da montagem como elemento essencial da linguagem cinematográfica. Seu trabalho prático, complementar ao teórico, foi produzir um filme (vídeo) em longa metragem a partir de dezenas de cenas de filmes distintos, de diretores e atores/atrizes diferentes, de épocas variadas etc. Foi uma verdadeira maratona pra chegar à versão final, inclusive com trechos de trilhas sonoras diferentes daqueles filmes que emprestaram as cenas.
Nos tempos de ouro das locadoras de vídeo, chegou a pensar em montar uma. Também acompanha de perto o mercado de home vídeo nacional e mundial, como colecionador. O blog A Eternidade e Um Dia de Um Cinéfilo e a página homônima do Facebook são uma consequência desse seu interesse por cinema e uma forma de dividir as informações relevantes com as demais pessoas com interesses semelhantes aos seus.
Boa sessão:
1) Quando nasceu sua paixão pelo cinema? Houve aquele momento em que olhou para trás e pensou: sou cinéfilo!!?
H.N.: Aprendi a amar o cinema desde o início da adolescência, quando passei a acompanhar diariamente os lançamentos de filmes de arte, mostras e críticas no jornal local. Cresci frequentando semanalmente os cinemas da capital. Mas o que mais me fascinava era o cineclube, pois funcionava como um oásis no deserto. Mesmo com tanta dificuldade de atrair o público, devido à escolha de títulos pouco populares, resistia bravamente e trazia filmes de todos os continentes. Aprendi a amar as nações, suas características, suas diferenças, suas peculiaridades, suas novidades, seu jeito de ser, seu modo de pensar e enxergar as coisas. Sempre entendi o cinema como algo bem além da diversão e anotava os títulos a que eu havia assistido num caderno, assim como aqueles que eu gostaria de conhecer algum dia.
Paralelamente, tive a oportunidade de adquirir meu primeiro videocassete, uma modernidade para a época. Foi o tempo de fazer amigos nas locadoras locais, sem deixar de ir ao cinema. O tempo passa, mas os bons filmes deixam marcas em nós, inclusive sonoras. Quantas trilhas inesquecíveis eu conheci! Quantos compositores à altura dos grandes mestres da música erudita! E quantos diretores que mais parecem escultores ou pintores!
De qualquer forma, os cinemas foram se retirando do centro da cidade e outros foram surgindo nos shopping centers da vida. Os lanterninhas, o carrinho de pipoca, a cortina vermelha ou preta e as filas para Os Trapalhões deixam saudade, um ar nostálgico das pequenas coisas que fazem diferença. Depois, vieram o DVD e o blu-ray, mas o meu interesse pelo cinema já estava bem consolidado.
2) Coleciona filmes, cds ou algo relacionado à 7ª arte ? Quem curte cinema, costuma ter suas relíquias em casa...
H.N.: Minha coleção de cinema começou na forma de CDs de trilhas sonoras de filmes, pois sempre fui apaixonado por música, especialmente a clássica. Prestava bastante atenção às trilhas dos filmes que eu via e anotava os títulos que sobressaíam. Na primeira oportunidade, eu adquiria. A maioria é importada, pois as trilhas lançadas no Brasil, geralmente, são de filmes blockbusters, que não me interessam muito. Devo ter comprado meus primeiros CDs de cinema por volta dos 20 anos de idade. Hoje, diminuí bastante o ritmo da importação, por conta da alta cotação do dólar e do imposto de importação. Tenho acima de 300 CDs de trilhas sonoras, a maioria de filmes europeus. Uma raridade atrás da outra. Michael Nyman, Zbigniew Preisner, Eleni Karaindrou, Goran Bregovic, René-Marc Bini e Wojciech Kilar são os meus compositores prediletos.
Em relação aos filmes em home vídeo, meu primeiro DVD foi adquirido em 1998, ano em que o formato foi lançado em nosso país. Nem aparelho eu tinha ainda, pois continuava com o meu videocassete. Títulos importantes começaram a ser disponibilizados e, em algum momento, eu percebi que valeria a pena criar a minha coleção, pois gosto muito de rever filmes que admiro. Não cheguei a comprar ou colecionar filmes em fitas de VHS, pois o formato era bem limitado, uma vez que facilmente mofava ou travava. Demorei um pouco a aderir ao blu-ray, devido ao alto custo inicial (aparelho e discos) e à escassez de bons títulos lançados no Brasil. Com o tempo, decidi substituir parte da minha coleção de DVDs por blu-rays e passei a adquirir apenas o formato em alta definição, na medida do possível, considerando que vários títulos chegam por aqui apenas em DVD, infelizmente. Entre blu-rays e DVDs, possuo mais de 1.000 filmes, vários deles não lançados no Brasil.
3) Você presta um incrível serviço aos leitores do seu blog, com relação aos lançamentos mensais das distribuidoras... O que te motivou a fazer este trabalho?
H.N.: Há vários anos que eu me atualizo regularmente pela internet sobre as novidades nos cinemas e mercado de home vídeo, seja em nível nacional ou internacional. Então, do interesse meramente pessoal, resolvi expandir e compartilhar as informações obtidas com as demais pessoas interessadas na área. Como os cinéfilos e colecionadores, de modo geral, têm bastante expectativa sobre as novidades do mercado cinematográfico, senti que deveria divulgar uma lista mensal dos blu-rays e DVDs prometidos pelas distribuidoras, para facilitar o acesso mediante a visualização num lugar só, pois as informações ficavam muito dispersas na web.
Minha pesquisa inicial era para saber quais os títulos aos quais eu iria assistir no cinema ou adquirir em vídeo. Agora, os demais títulos previstos também fazem parte da minha lista, com o intuito de colaborar com os amigos virtuais. A lista facilita bastante o planejamento de futuras compras, ainda mais agora que as tiragens de home vídeo estão bastante limitadas, provocando o rápido esgotamento do estoque nas lojas. A página do Face também é uma forma de fazer amizade, ainda que apenas virtual. É prazeroso conversar com pessoas que têm a mesma paixão, independentemente do estilo de filme preferido.
Dessa forma, meu singelo objetivo com o blog e a página do Face é poder compartilhar informações, impressões, desejos e sentimentos sobre cinema, blu-rays, DVDs e trilhas sonoras de filmes. Nesse sentido, eu falo sobre os lançamentos e pré-lançamentos, sugiro lojas virtuais de home video (nacionais ou estrangeiras), dedico algumas matérias sobre tributação e frete, ofereço dicas sobre promoções em lojas, indico filmes em cartaz nos cinemas ou disponíveis em vídeo (com links para trailers), analiso fatos relevantes sobre a situação do mercado de cinema e vídeo, faço cobertura sobre os festivais importantes (concorrentes, vencedores, trailers etc.) e o que mais valer a pena a respeito dos temas abordados.
4) Qual experiência, relacionada ao mundo do cinema, que mais te marcou?
H.N.: A fase mais marcante foi justamente a inicial, na adolescência, quando apenas sozinho ou com outros poucos cinéfilos na sala do cineclube, eu assistia a Ingmar Bergman, François Truffaut, Federico Fellini, Michelangelo Antonioni, Luchino Visconti, Wim Wenders, Carlos Saura, Luis Buñuel, Jean-Luc Godard e tantos outros expoentes do cinema mundial. Excêntrico ou não, eu não me importava. Não perdia nenhuma semana.
Além disso, fiz várias maratonas de cinema em casa, no início da juventude. Alugava vários filmes de uma vez só e assistia a todos eles com apenas pequenos intervalos para refeição e descanso. Também não posso me esquecer do Corujão e das várias outra sessões de cinema na TV aberta, quando se valorizava o cinema de qualidade. A madrugada era uma criança...
5) Cinéfilos tem suas preferências. Existe uma lista dos "filmes da sua vida"? Cite pelo menos seu top 10.
H.N.: Minha lista não é nem um pouco econômica, mesmo depois de muita triagem e deixar ótimos filmes de fora. As obras cinematográficas que mais me atraem são aquelas que retratam o relacionamento humano de forma especial e mais aprofundada, geralmente de origem europeia, mas sem nenhuma limitação a respeito. São filmes que eu não canso de ver e sempre percebo um detalhe a mais a cada visualização. Com frequência, eu me pego lembrando de alguma cena memorável, impactante ou arrebatadora, sem falar da trilha sonora.
Os títulos incluem, sem preocupação com ordem de preferência, Morangos Silvestres; Minha Vida de Cachorro; Ratos e Homens; O Clube da Felicidade e da Sorte; A Fraternidade é Vermelha; Não Matarás; Longa Jornada Noite Adentro; Amores Brutos; Ondas do Destino; A Paixão de Cristo; Vidas Amargas; Sindicato de Ladrões; O Fabuloso Destino de Amélie Poulain; O Caçador de Pipas; A Cor Púrpura; Império do Sol; O Piano; Virgina; Gosto de Cereja; Tão Longe, Tão Perto; Sociedade dos Poetas Mortos; Veludo Azul; Rocco e Seus Irmãos; A Terra Treme; Cinema Paradiso; A Felicidade Não se Compra; Abril Despedaçado; Lavoura Arcaica; Central do Brasil; Blader Runner – O Caçador de Androides; A Rainha Margot; Gattaca: A Experiência Genética; Um Homem Meio Esquisito; O Marido da Cabeleireira; Sangue Ruim; Em Um Mundo Melhor; Era Uma Vez na América; A Última Sessão de Cinema; O Retorno (2003); Hábito Negro e Paisagem na Neblina. Ainda bem que eram “pelo menos”...
6) Fale um pouco dos seus próximos projetos. Tanto os que estão acontecendo quanto os previstos para começar.
H.N.: Muito em breve, pretendo incrementar o blog e a página do Face com várias postagens temáticas e séries especiais, além de outra novidade que vai aumentar a interação dos amigos virtuais. Os detalhes serão divulgados possivelmente até o mês de maio. Também tenho o desejo de ir à Europa até o ano que vem, quando aproveitarei para adquirir vários títulos em blu-ray não lançados no Brasil ou disponibilizados por aqui apenas em DVD. Espero, ainda, assistir pelo menos dois festivais internacionais de cinema, possivelmente o de São Paulo e Cannes, e compartilhar minhas impressões sobre a experiência e detalhes sobre os filmes exibidos.
7) Para finalizar, se pudesse deixar uma lição do tempo que se dedicou ao cinema, qual seria?
H.N.: O cinema é uma oportunidade de conhecer novos horizontes, expandir a visão sobre as coisas, visitar países (sem ao menos pisar os pés fora do Brasil), atualizar-se sobre o pensamento e temas relevantes de outras comunidades e nações... O cinema é uma forma de empatia com o outro, uma maneira de interagir com o semelhante. Ou seja, a diversão é apenas um aspecto do filme. Quanto mais pudermos extrair dos filmes, melhor.
M.V.: Obrigado amigo. Sucesso.