Entrevista com Fernando Brito
Boa sessão:
1) Quando surgiu sua paixão pelo cinema? Houve um momento que olhou para trás e percebeu que era um cinéfilo?
F.B.: Difícil precisar o momento exato, mas com certeza foi quando eu ainda era molequinho. Sou do interior, de Taubaté (São Paulo), e minha irmã mais velha, que morava na capital, e um amigo trouxeram para mim e meus irmãos nosso primeiro videocassete, um Panasonic G21, e duas fitas: “Amargo Pesadelo” e “O Retorno de Jedi”. Acho que a paixão deve ter começado nesse momento, justamente com as infinitas possibilidades que esse simples aparelho de videocassete nos ofereceu.
Depois aconteceram tantas e tantas visitas às videolocadoras da região, e, bem mais tarde, em 1995 já em São Paulo, acompanhei atentamente as comemorações do primeiro centenário do cinema, frequentando muitas mostras em cinematecas, cineclubes, além de começar a colecionar livros, jornais e qualquer coisa sobre cinema. Nesse período também, comecei a frequentar cursos sobre cinema e a trabalhar como indicador na 2001 Vídeo, a principal videolocadora da cidade.
M.V.: Os cinéfilos sempre se lembram do primeiro videocassete. Tenho o meu JVC até hoje...
2) Cinéfilos costumam ter suas relíquias em casa. Coleciona filmes, cds ou algo relacionado à 7ª arte ?
F.B.: Sim, sempre colecionei filmes em VHS, DVD, Blu-ray, livros e revistas de cinema, além de CDs de trilhas sonoras.
3) Quando se tornou crítico de cinema? Conte um pouco como foi sua trajetória na Versátil.
F.B.: O crítico nasceu com o cinéfilo em meados/final dos anos 90. Hoje, após um longo período na curadoria da Versátil, cargo no qual fiz de tudo um pouco (vídeos, entrevistas, mostras, etc.), pretendo voltar a escrever artigos, resenhas e ensaios. O crítico e professor dentro de mim pedem por isso...
F.B.: Obrigado pelos elogios e pelo reconhecimento ao nosso trabalho. Procuro manter o grau de excelência da curadoria pesquisando sobre os temas de cada coleção e também conhecendo a fundo cada título lançado, buscando sempre apresentar aos cinéfilos brasileiros grandes filmes esquecidos ou injustamente pouco comentados por aqui, as famosas “pérolas”, e também resgatar a obra de cineastas importantes. Tudo isso sempre com muita atenção à qualidade da edição (imagem, tradução, extras, embalagem).
M.V.: Qualidade esta impecável. Lembro de uma vez que a imagem estava tão incrível que fui conferir se estava assistindo uma edição em blu ray ao invés do dvd.
5) Cinéfilos costumam fazer "listas". Outros odeiam...Você possui a lista dos seus filmes favoritos? Algo como um TOP 10...
F.B.: Montar uma lista de favoritos é sempre cometer injustiças. Afinal, não passa nem um minuto da criação de uma lista dessas e eu já percebo que acabei me esquecendo de incluir algum título. Mas vão lá alguns filmes da minha vida: “Um Corpo que Cai”, “Era uma Vez em Tóquio”, “Persona”, “O Leopardo”, “Rocco e Seus Irmãos”, “O Crepúsculo dos Deuses”, “Ouro e Maldição”, “A Palavra”, “2001: Uma Odisseia no Espaço”, “A Marca da Maldade”, “Aurora”, “Ivan, o Terrível”, “A Doce Vida”, “Rastros de Ódio”, “No Tempo das Diligências”, “Era uma vez no Oeste”, “Contos da Lua Vaga”, “Pai e Filha”, “Passageiro: Profissão Repórter”, “O Anjo Exterminador”, “Harakiri”, “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, “Lawrence da Arábia”, “Apocalypse Now”, “O Segredo das Joias”, “Jules e Jim”, “Alphaville”, “Terra”, “Imitação da Vida” (1959), “Carta de uma Desconhecida”.
6) Qual sua experiência dentro deste universo cinematográfico que mais te marcou?
F.B.: Foram tantas experiências marcantes, mas vou citar uma da qual me orgulho bastante: cuidar de todas as etapas do lançamento no Brasil em DVD, simultaneamente à exibição na Mostra Internacional de Cinema de S. Paulo, da versão integral restaurada do espetacular filme-série “Berlin Alexanderplatz”, do Fassbinder.
M.V.: “Berlin Alexanderplatz” era um dos filmes mais desejados de todos os tempos em dvd. Tenho certeza que foi um orgulho imenso. Eu mesmo conhecia 2 ou 3 partes apenas.
7) Para finalizar, se pudesse deixar uma lição da sua vida dedicada ao cinema, qual seria?
F.B.: O bom cinema não tem idade, cor, país ou gênero. Se você quiser se aprofundar no universo fascinante do cinema, dispa-se de qualquer preconceito cultural e, na convivência com os filmes, fique atento ao critério de adequação, isto é, se a linguagem cinematográfica empregada pelo diretor está realmente em consonância com o conteúdo que pretende transmitir ao espectador.
M.V.: Obrigado Brito. Vida longa e próspera à Versátil.