Entrevista com Tom Mcloughlin

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Através das 7 perguntas capitais eu conheci o mundo, literalmente. Consegui conversar com pessoas que eu jamais imaginaria que seria possível. Foi um projeto incrível. São apenas 7 perguntas, mas que fornecem um pequeno mosaico da carreira e paixão do entrevistado (a) pelo cinema.

O bate papo de hoje foi com Tom Mcloughlin, que fez o Sexta Feira 13 que amo de paixão: Jason Vive. Confira como foi:

1)  É comum lembrarmos com carinho do início da nossa relação com o cinema. Os filmes ruins que nos marcaram, os cinemas frequentados (que hoje, provavelmente, estão fechados), as extintas locadoras de VHS que faziam parte do nosso cotidiano. Você é um apaixonado por cinema? Conte-nos um pouco de como é sua relação com a 7ª arte.

T.M.: Eu era um menino que estava obcecado com três coisas: fazer filmes, mágica e Charlie Chaplin. Tudo isso devido à influência do meu pai. Ele era um mágico. Ele amava filmes e estudou cinema na USC Cinema School e, eventualmente, se mudou para Culver City para estar perto dos estúdios MGM. Ele tinha uma pequena coleção de 16mm de Charlie Chaplin e ele os mostrava nas noites de domingo na sala de estar da família projetado em um grande lençol branco. 

Eu estava obcecado por querer ser como Chaplin (mais tarde era Buster Keaton) e queria fazer filmes que fossem comédias mudas, que posteriormente eu escrevi, dirigi e atuei. Fiz o papel de mago em shows e festas para pagar pelo filme de 8mm, que consegui comprar para fazer meus curtas-metragens. Eu fiz muitos deles nos backlots dos estúdios MGM nos fins de semana, quando ninguém estava por perto.

M.V.: Que legal. Para o leitor(a)  que não sabe, um backlot é uma área adjacente a um estúdio de cinema, contendo edifícios e ruas para cenas externas em filmes ou produções televisivas. Servem também para fazer construções temporárias.



2)  Muitos adoram fazer listas de filmes preferidos. Outros julgam que é uma lista fluida. Para não te fazer enumerar vários filmes, nos diga  qual o filme mais importante da sua vida. E há uma razão para a produção que citar ser destacada?

T.M.:
 Eu não me canso de assistir filmes. É meu amor, paixão e obsessão. Especialmente os filmes que não são americanos. Adoro experimentar e ter compreensão e percepção da humanidade à partir do trabalho de artistas de cinema de todo o mundo. Filmes de terror da Coréia, Japão e China. Filmes poéticos e surrealistas da Espanha. Filmes psicológicos da Rússia e da Suécia. Comédias dirigidas por artistas da França e da Itália. Adoro o estilo e estrutura cinematográfica do México e América do Sul. Odeio generalizar esses países e esses gêneros porque não são os próprios países, mas os próprios artistas de filmes que cresceram ou foram influenciados.


Pessoalmente, nunca fui consciente de como minha vida e onde eu cresci estava refletida em meus filmes até ler o livro de Joseph Maddrey. Alguns anos atrás, Joe pesquisou TODOS os meus filmes e trabalhos de televisão e compilou uma enorme lista de perguntas. Por mais de três meses, ele me entrevistou e revelou mais para mim do que eu havia imaginado. Na minha carreira, eu nunca olhei para trás. Para mim, é sempre sobre: "Ok, isso já terminou agora, o que é o próximo?" 

As perguntas de Joe me fizeram pensar sobre o que aconteceu na minha vida que resultou em certos elementos no meu trabalho. Que tipo de características ou temas se repetem. O que estava realmente acontecendo na minha vida enquanto eu estava escrevendo ou fazendo esses filmes. O resultado foi o livro "A Strange Idea of Entertainment: Conversations with Tom Mcloughlin"

Tanto o livro quanto a versão Kindle estão disponíveis internacionalmente no Amazon (só clicar no nome acima!!!).

Mas voltando á sua pergunta. Não existe um filme que eu eleja. São experiências que vem e vão. Meu melhor filme de hoje pode mudar amanhã.


3) Eu adoro os seus filmes. "Numa noite escura" é um ótimo estudo do horror. "Às vezes eles voltam" é uma das melhores produções feitas para TV  que foram baseadas na obra de Stephen King. Mas Sexta Feira 13 - Parte VI é um dos meus “guilty pleasures” favoritos. É o filme que tem as melhores mortes da série, o clima mais interessante, o melhor tema com uma abertura estilo James Bond...Como foi a experiência de realiza-lo?

T.M.: Eu lhe agradeço por isso. Especialmente considerando que foi feito há mais de 30 anos, e na época foi tão divertido de fazer, mas fiquei preocupado com os fãs hardcore que não gostariam da minha comédia e do estilo de filme gótico que usei.

M.V.: Você acredita que eu o assisti em torno de cem vezes?  É um dos filmes que mais revi na vida. Eu fazia muito isto nos anos 80. Você pode me contar algumas curiosidades sobre a produção?


T.M.: A sério? Eu não acho assisti ele muitas vezes!! Estou impressionado e, na verdade, muito honrado que você possa voltar muitas vezes para esse filme e, de alguma forma, não enjoar dele. Mas eu também tenho aqueles filmes certos com os quais tenho uma relação única. Pode até não ser um ótimo filme, mas eu o vi em determinado momento da minha vida. É pessoal e especial para mim.

Alguns eu acidentalmente descobri isso enquanto "folheava" os canais de TV. Eu bato o olho numa cena que me segurou e então eu tenho que encontrar esse filme e estudar tudo o que posso sobre ele. "Felicidade não se compra" do Frank Capra foi assim para mim. Eu só vi a última cena na TV e ela me fez chorar. Eu não tinha ideia sobre a história ou personagens, mas o poder emocional da cena final teve um efeito profundo sobre mim e sobre toda a minha vida.


4) Algumas profissões rendem histórias interessantes, curiosas e às vezes engraçadas. E certamente, quem trabalha com cinema, tem suas pérolas. Lembra de alguma história legal que tenha acontecido  durante a execução de algum trabalho seu e que possa compartilhar conosco? Alguma história de bastidores por exemplo…

T.M.: Quando os Beatles e os Rolling Stones estouraram na América no início da década de 1960, eu era um jovem adolescente. Eu estava obcecado com meninas e querendo romances. Mas eu me sentia como um pária e uma aberração naqueles dias. Eu queria uma coisa, mas minha vida me levava para outro caminho. Na verdade, os filmes que eu estava fazendo estavam mais voltados para o horror do que a comédia que eu tanto gostava. Eu me senti muito mais íntimo de Frankenstein, Drácula e o Lobisomem do que os comediantes de referência como Chaplin ou Keaton.


E as adolescentes adoravam os ídolos de cabelos longos do rock and roll. Então, para o desapontamento de meu pai, deixei crescer meu cabelo e juntei-me a uma banda de rock. Eu tinha  problemas na escola o tempo todo desde que meu cabelo ficou longo (era proibido naqueles dias. Os meninos não poderiam deixar seus cabelos tamparem seus ouvidos). E para eu tocar música de rock e ter garotas adolescentes gritando quando eu o fizesse era mais importante do que meus estudos escolares. Meu espírito rebelde me expulsou de 7 escolas secundárias. Meus pais queriam que eu morresse para vender partes do meu corpo a um laboratório de ciências para me estudarem.

M.V.: Ri alto aqui.


5) Voltando à sua área de atuação. Qual trabalho realizado você ficou profundamente orgulhoso? E em contrapartida, o que você  mais se arrependeu  de fazer, ou caso não tenha se arrependido, teria apenas feito diferente?

T.M.:
 Isso é como perguntar quem é minha filha favorita? Meu filho ou filha. Impossível escolher. Eu fiz ... eu acredito, 41 ou 42 produções, entre longas para o cinema, para a TV e episódios de séries. Tenho uma conexão profunda com todos em algum nível. Há alguns que eu gostaria de dizer não, porque eles não tiveram minha completa visão neles. Há também alguns filmes que eu pensei muito e não fiz, mas isto se revelou uma decisão equivocada, como A hora do pesadelo 4, Pânico, Noiva do Chucky e o piloto da série CSI.

M.V.: A hora do pesadelo 4 e a Noiva do Chucky certamente seriam melhores sob a sua direção.


T.M.: Obrigado. Há alguns filmes meus que eu não acho que eu gostaria de refazer porque eles parecem suportar a prova do tempo e da apreciação dos fãs. Sexta-feira 13 - Parte VI: Jason vive,  Às vezes eles voltam, Assassinato em Greenwich, A força do amor e A outra face da inocência (estes 4 últimos que citei, feitos para a TV). Todos eles saíram muito perto do que eu me propus a fazer. Outros eu amo, mas se eu tivesse a chance de refazê-los ou reeditá-los, eu adoraria fazer isso. Meu primeiro filme, "Numa noite escura" é aquele em que estou trabalhando atualmente num remake. Há coisas que eu sei que posso melhorar muito.

M.V.: Curioso, pois muitos veem este filme como o melhor que dirigiu. Eu mesmo o revi antes de nossa entrevista, e continuo gostando bastante.


6) Agora fale um pouco sobre seus próximos projetos. Há alguma obra por vir?

T.M.: Sempre. Estou terminando o meu roteiro no "remake" do meu primeiro filme "Numa noite escura". Depois de mais de 40 produções, eu obviamente conheço muito mais como cineasta e sei recriar a história original de uma maneira que NÃO é uma sequencia ou realmente um prequel. O filme começará agora com a introdução de nosso vampiro psíquico Raymar alguns dias antes de sua morte. Sua relação com a filha será mais o foco e seu plano mais estranho após a sua morte. 

Ainda conservarei a atmosfera assustadora e claustrofóbica do meu original, mas muitas coisas serão diferentes para aumentar a empatia da jovem personagem Julie (que no primeiro filme foi feito por Meg Tilly) e, portanto, o aspecto do medo será ainda mais intenso. 


Eu tenho outra nova criação para o reino dos filmes de terror. Tem sido um longo processo de pesquisa e desenvolvimento. Só posso esperar que alguém não passe à minha frente com a mesma ideia. É algo inédito, ao mesmo tempo é um conhecimento ao alcance do todos durantes séculos, mas que estranhamente, não foi usado em um filme de terror.

E como alguns de vocês já sabem, eu voltei para a minha paixão que é o rock and roll. Nos últimos seis anos, minha banda THE SLOTHS tem se apresentado em clubes e festivais. Chegamos com "Back From The Grave" (o nome do nosso álbum) e ressuscitamos o show e a música que tocamos em 1965 quando abrimos para bandas lendárias como The Doors, Pink Floyd e The Seeds. Nosso álbum será finalmente lançado na Europa pela Eternal Records e uma turnê europeia em está prevista para breve. 


Como o cantor principal, eu posso, mais uma vez, expressar toda a dor, angústia, alegria e comportamento destrutivo de ser um adolescente desajustado, mas como um desajuste de agora, com cara da década de 60. Estou constantemente pulando do palco para a multidão para cantar, dançar, tocar, beijar ou me espremer entre as pessoas na multidão. E fico espantado com o que faço no palco e no meio do povo. Isto para não mencionar o que eles fazem comigo! Não vejo nada que pare esta paixão pelas próximas décadas.

Na verdade, não vai acabar mesmo depois de estar enterrado na minha cripta. Estou fazendo uma "Experiência Paranormal na Ciência Psíquica", que é um trabalho que eu tenho preparado nos últimos 7 anos e meio que  foi de certa forma, influenciado pelo estudo que eu e meu amigo Michael Hawes fizemos ao pesquisar sobre o filme "Numa noite escura" na década de 1970.


Eu já vi muitas evidências na existência do paranormal para não acreditar. Eu tenho uma teoria muito sólida sobre o que é o fenômeno de fantasmas, poltergeist, outros eventos psíquicos. Eu dou uma explicação muito básica no documentário de curta metragem 'LEGENDS JANE DIE: HOLLYWOOD FOREVER. Nos últimos 4 minutos, explico o que acontecerá se você visitar minha cripta depois que eu estiver sepultado lá, com minha alma se movendo. "Algo" permanecerá lá na esperança de que você "experimente" aquele momento, por meio de um ou todos os seus cinco sentidos.

Estou terminando. De qualquer forma, fica em primeira mão para você que em breve sairá o remake do meu primeiro filme.

M.V.: Que honra. Também tive a sorte de entrevistar o polêmico Uwe Boll e ele anunciou a aposentadoria dele em primeira mão também. São fatos que nunca vou esquecer...


7) Para finalizar, qual a lição que você tirou do tempo que se dedicou à arte que você pode compartilhar?

T.M.: Fui abençoado por ser professor de cinema na Universidade Chapman / Dodge College, em Orange County, Califórnia. Eu ainda não sinto que ensino tanto quanto queria compartilhar, mas trabalho no sentido de tentar inspirar a próxima geração de cineastas. Tem sido um premio para mim nestes últimos anos. Eu vi muitos alunos indo para o seu primeiro longa-metragem ou outras ótimas posições na indústria cinematográfica, galgando os passos necessários para atingirem seus sonhos.

Eu ensino-os o "ofício" de escrever, dirigir, produzir, editar e todas as fases da produção de filmes e televisão. Mas o meu OBJETIVO PRINCIPAL é fazer com que eles busquem o que é pessoal para eles. Quais filmes os inspiraram. O que eles sabem da vida até este ponto. Aliar o conhecimento adquirido ao fato de que precisam sempre de mais estudo e pesquisa. 


Não segure espelho de outros filmes e heróis do cinema (eu os encorajo a tirar livremente o melhor de todos os grandes artistas que fizeram diversas  formas de arte), mas olhe de perto em si mesmos, seus relacionamentos, familiares, amigos com quem convivem, e todas as coisas que, de algum modo, captam sua atenção. Crie do que é pessoal para você. Ninguém pode fazer exatamente o mesmo filme que você porque não experimentou ou entendeu o que você tem. Não importa qual seja a sua idade.

M.V.: Exatamente isto. O cinema é o reflexo do que você é, viveu ou mesmo viverá.

T.M.: Sim. Então, torna-se um jogo de PACIÊNCIA. Algo na nossa era digital, achamos difícil de aceitar. Podemos empurrar botões e telas para obtermos o que queremos instantaneamente na internet. Há esta comunicação mundial em telefones celulares. Mas MUITO raramente acontece o "instante" em conseguir que seus sonhos se realizem.


Para realmente conseguir "uma carreira" no ramo que você deseja fazer e amar com todo o seu coração, "talvez" alguém diga que seja um em um milhão. É isso que você será informado. E muitos de vocês deixarão de acreditar e seguirão outro caminho. Mas eu digo isso para você: "Você é esse UM em um milhão" Pode levar mais tempo do que você quer, mas seja paciente e isso acontecerá se "VOCÊ NUNCA deve desistir dos SEUS SONHOS".

Eu acreditei nisto minha vida inteira. Não é sempre fácil e há muita dúvida e sofrimento para permanecer no seu curso. A maior parte da negatividade vem daqueles ao seu redor. Mas ACREDITE você pode fazê-lo... e você vai.


M.V.: Além de tudo, uma aula motivacional. Que honra. Obrigado amigo. Estarei na primeira fila do seu filme, e certamente, escreverei sobre ele aqui.

T.M.: Uma honra é saber que alguém viu tantas vezes assim meu filme. Sucesso para você.
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