Entrevista com Nicole Puzzi
Tereza Nicole Puzzi Ferreira é uma atriz, apresentadora e escritora brasileira. Filha de fazendeiros no Paraná passou a morar em São Paulo no ano de 1970. Apos tentar trabalhos na TV Tupi conheceu Jean Garret que a levou para a "Boca do Lixo" e iniciou carreira no cinema em 1975, trabalhando em "Possuídas pelo Pecado", e assim, ficou conhecida pelas participações no cinema brasileiro nas décadas de 1970 e 1980. Na TV teve destaque como a médica Luísa na telenovela Barriga de Aluguel de Glória Perez. É autora do livro A Boca de São Paulo, sobre os bastidores das pornochanchadas e da Boca do Lixo paulistana e apresentadora do programa "Pornolândia" no Canal Brasil. Em 2014, escreveu a peça "A Pornochanchada que Nos Pariu".
Atriz inesquecível e marcou a vida de muitos (como a minha) no filme Ariella. Entre seus marcantes trabalhos está "As sete vampiras", roteirizado por outro entrevistado meu, Rubens F. Lucchetti.
Confiram as respostas abaixo:
1) Como começou a trabalhar na indústria do cinema? Quando surgiu a primeira oportunidade de atuar?
N.P.: Em 1975, aos 17 anos fui convidada para atuar no filme "Possuídas pelo pecado" pelo David Cardoso. Um ótimo filme, ao estilo Buñuel, sob a direção do excelente diretor Jean Garrett.
2) "Éramos musas do sexo em uma época reprimida, moralista e desinformada", disse você numa entrevista. Como foi ser uma musa? No que isto impactou sua vida?
N.P.: É difícil ser a frente de seu tempo e nós éramos. Impactava, fortemente, a cabeça despreparada de um povo machista e reprimido e, por isso, sofríamos as consequências sendo alvos de preconceito e inveja.
Eu sofri um pouco, na época, pois, sempre, fui uma pessoa amorosa e de mente aberta. Hoje, por mais que eu tenha sofrido, percebo, com alegria, que eu estava do lado certo da História.
3) Escreveu um livro "A Boca de São Paulo". Nele conta os bastidores das pornochanchadas. Há alguma história interessante que poderia nos contar desta época?
N.P.: O mais interessante a ser contado sobre os bastidores da pornochanchada é o fato de ter feito parte da cambada da Rua do Triumpho. Eu me surpreendo todas as vezes em que me lembro do fato de ter sido personagem vivo desse mundo singular e impressionante dos anos 70.
4) Qual filme considera o melhor trabalho de sua carreira?
N.P.: Amei ter feito Ariella, Prisioneiro do sexo, "Eu" e todos os outros. Amo tudo que fiz em meu passado.
M.V.: Aliás, gosta de filmes em geral? Costuma assistir regularmente? Pergunto, pois nem sempre quem atua no cinema/tv tem hábito de assistir filmes.
N.P.: Assisto, pelo menos, um filme por semana, de Quentin Tarantino, Eli Roth, Almodovar, italianos, em geral. Em relação à cinema nacional, vejo muitos curtas. Sou apaixonada por curtas brasileiros, refletem um pouco do cinema feito na raça, na atitude de liberdade criativa de novos cineastas.
5) Quem gosta de cinema, costuma ter suas preferências. Quais filmes marcaram sua vida?
N.P.: O filme que mais marcou minha vida foi “O picolino” com Fred Astaire. Mais especificamente a cena em que ele canta "Cheek to Cheek" com a Ginger Rogers. Gosto também de “Torrentes de paixão” de Henry Hathaway, com Marilyn Monroe e Joseph Cotten, “O Ladrão Apaixonado”, de Mário Monicelli, com Anna Magnani e Totó, “Belíssima” de Luchinno Visconti, com Anna magnani, “A doce vida”, de Frederico Fellini, com Anita Eckberg e Marcello Mastroianni, “A noite vazia”, de Walter Hugo Khoury, com Norma Benguel e Odete Lara, “Filme demência”, de Carlos Riechenbach, com Ênio Gonçalves e Imara Reis, “Sin city” de Frank Miller, Robert Rodriguez e Quentin Tarantino, com Mickey Rourke, “Pulp fiction”, de Quentin Tarantino, com Samuel L. Jackson e John Travolta, “Os oito odiados”, de Quentin Tarantino, com Samuel L. Jackson e Jennifer Jason Leigh.
6) Fale um pouco dos seus próximos projetos. Tanto os que estão acontecendo quanto os previstos para começar.
N.P.: Atualmente, apresento o programa Pornolândia, toda quarta feira, meia noite, no Canal Brasil. Faço shows de stand up. Não comento sobre projetos que ainda não estão prontos
7) Para finalizar, se pudesse deixar uma lição do tempo que se dedicou à vida artística, qual seria?
N.P.: Não sei. Não sou exemplo de nada. A vida foi boa comigo e eu amei tudo que fiz, amei todas as alegrias e respeitei os sofrimentos pelos quais passei.
M.V.: Obrigado e sucesso.